Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.

sexta-feira, novembro 20, 2009





segunda-feira, agosto 03, 2009

Scott Matthew





Scott Matthew é um cantor e compositor nascido em Queensland, Australia. Ele, actualmente, reside e trabalha como um artista independente em Nova York. Era membro da banda pop Elva Snow, fundada com o ex-membro da banda do Morrissey, Spencer Cobrin. Antes do fim da banda, Matthew fez uma performance com a banda Songs to Drink and Drive. Scott Matthew é mais conhecido pelas suas performances em bandas sonoras como da série de animação “Ghost In The Shell: Stand Alone Complex” e da animação em loga metragem “Cowboy Bebop: Knockin’ On Heaven’s Door”, ambos produzidos pelo compositor Yoko Kanno. O seu trabalho com o rock “Lithium Flower” expô-lo no Japão e nos Estados Unidos quando ele fez um show no canal de televisão Cartoon Network. Matthew também escreveu a música “Go Where No One’s Gone Before”, tema para uma série de animação produzida por Billy Preston. Recentemente fez sucesso com sua contribuição para a banda sonora do filme “Shortbus” do diretor John Cameron Mitchell. A trilha incui seis canções do artista onde destaco o tema, Upside Down. A voz de Scott Matthew foi descrita como morna e um pouco andrógena. Além de cantar, ele mostra o seu talento como guitarrista.

domingo, agosto 02, 2009

Homem, Abre os Olhos e Verás



Helen Frankenthaler, Playa, 1950





Homem,abre os olhos e verás

em cada outro homem um irmão.

Homem,as paixões que te consomem

não são boas nem más.

São a tua condição.

A paz,porém, só a terás

quando o pão que os outros comem,

homem,for igual ao teu pão.

Armindo Rodrigues

sábado, agosto 01, 2009

Poupe o Ambiente!

De facto, existem momentos em que o seu PC não está a fazer mais nada senão a consumir energia (o que não é o caso neste momento).
Tem noção da quantidade de computadores que existe no mundo?Se todos adoptassem técnicas para evitar o consumo desnecessário do seu computador, o impacto económico e ambiental seria brutal! Mais dinheiro no bolso e menos emissões de CO2.
Com o objectivo de diminuir o consumo energético por parte dos computadores, a empresa Verdiem desenvolveu um software que para além de permitir configurar um plano de poupança de energia, ainda faz uma estimativa das poupanças anuais (em €) de acordo com o plano seleccionado.
Esse software chama-se Edison, é gratuito e está disponível para download no site da
Verdiem. Experimente e veja quanto pode poupar.
Para obter valores de poupança mais próximos da realidade, deve na primeira utilização alterar o valor do preço por kWh. Esse valor depende da potência contratada ao seu fornecedor de energia eléctrica.

sexta-feira, julho 31, 2009

Paradoxo

Otto Dix, Retrato da Jornalista Sylvia von Harden, 1926



Dominamos os conhecimentos, através da ciência. Sabemos quais as causas, mas ignoramos as consequências. Temos o conhecimento, mas falta-nos a sabedoria que só é adquirida pela experiência!
Afinal, qual é a medida, de facto, do nosso conhecimento?

alfa





Lykke Li

Li nasceu em Ystad, Skåne, na Suécia em 1986. A sua vida está desde cedo ligada ao Mundo e às Artes, sendo filha de pais artistas (a mãe era pintora e o pai músico). Um pouco mais crescida Li e os seus pais mudaram-se para Estocolmo. Mais tarde quando Li tinha seis anos, a familia veio viver para Portugal, onde viveram aqui por cinco anos. A vida agitada dos pais fez-la passar bastante tempo entre Lisboa e Marrocos. Também passou Invernos no Nepal e na Índia, e aos 19 anos a cantora e a familia mudam-se para Nova Iorque durante três meses. Quando Li não está em tour, a cantora reside em Södermalm, dístrito de Estocolmo.
Os links têm videos diferentes.

quinta-feira, julho 30, 2009

Vai alta no céu

Camille Pissarro, Os castanheiros em Osny, 1873




Vai alta no céu a lua da Primavera

Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.

Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,

E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.

Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,

Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,

Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

Alberto Caeiro






quarta-feira, julho 29, 2009

Não há Festa como o «Avante!».



Artistas da Festa do «Avante!» 2009:













Grande Gala de Ópera(ver programa)
Aldina Duarte
Bandarra
Blind Zero
Carla Pires
Ciganos d'Ouro
Clã
David Fonseca
Francisco Naia
Frei Fado d'El Rei
Gazua
Guy Davis
Hazmat Modine
João Lencastre's Communion
Laurent Filipe
Luísa Amaro
Maria Alice
Maria João e Mário Laginha
Nelson Cascais
Peste & Sida
Roda de Choro de Lisboa
Samuel
Seth Lakeman
Ska P
Skalibans
Tabanka Djaz
Telectu e convidados
Tereza Salgueiro
The Men They Couldn't Hang
The PostCard Brass Band
The Soaked Lamb
Vanessa Alves
Vitorino com os Cantadores do Redondo
Voces del Sur
Willie Nile



A EP - entrada permanente - não é apenas a possibilidade de acesso a dezenas de espectáculos, exposições e tantos outros acontecimentos nos três dias da Festa, mas um acto de solidariedade com a Festa e com o PCP, o promotor daquela que é a maior iniciativa político-cultural que se realiza no país.
Todos os anos é exigido ao PCP um grande esforço financeiro para realizar a Festa e as despesas fazem-se antes da abertura das portas. Por isso, é fundamental que se realizem receitas antecipadamente através da aquisição de EP’s.
Festa do Avante 2009 EP - Titulo de Solidariedade - €19,00 (até 3 de Setembro) €28,00 em 4, 5 e 6 de Setembro, à venda nos
Centros de Trabalho do PCP











Realces meus na lista dos artistas.

Naquela noite, em Ourique!

Rogério Ribeiro, Estendia a Mão Larga e Espessa aos Recém-Vindos
(Serigrafia concebida pelo pintor para o romance de Manuel Tiago, Até Amanhã, Camaradas)

Naquela noite, em Ourique, as eleições para a Câmara não eram uma mera disputa política. Frente a frente estiveram duas culturas. Arrancadas à profundidade da história, emergiram numa só noite crispada as contradições que desde sempre cavaram o fosso entre o Portugal das miudezas e o Portugal universalista.
O Portugal da Inquisição e o do Padre António Vieira. De José Agostinho de Macedo e de Garrett. Ruralidade e cidadania - diante uma da outra, como galos a medirem-se. Nesse inverno de tensões à flor da pele, em Ourique.
A clivagem - nessa campanha eleitoral que despertou a atenção do país - foi transversal. A linha divisória dos dois campos estilhaçava o perímetro identificador dos partidos. Não era de política que se tratava: eram duas culturas que não se entendiam. Dum lado, os senhores de uma população de camponeses encurralados pelo isolamento geográfico. Do outro, um "estrangeirado": Francisco Felgueiras, rodeado apenas de quatro ou cinco crentes como ele - não mais. Um solitário. A quem o lugar era culturalmente hostil.
Os senhores da vila celebrizaram-se nesse Dezembro com uma palavra de ordem estreita e marialva: "ainda há homens em Ourique". Era a reacção instintiva de uma cultura hermética, serrana, temente da novidade e da mudança. Do outro lado dizia-se estradas e portões, saneamento básico e saúde, barragens e jardins de infância.
Naquela noite a contagem dos votos demorava. Noite nevosa. Encapotada num nevoeiro gordo a despegar-se das serranias escuras. Na rua formavam-se grupos. Nervos a estalar: cada um a conter o grito de triunfo ate ao instante supremo da explosão.
O homem da cidade ganhou as eleições. À tangente. Ganhou-as monte a monte. De galochas pelos caminhos enlameados da serra. Ganhou-as a conversar. A escutar. Explicando em voz grave.
Por uma unha negra as ganhou – terminando o mandato não tornou a candidatar-se. Dizia que "povo é povo em qualquer parte do mundo". Foi esta visão uniformizada que o deitou abaixo. A sua urbanidade sempre funcionou no microclima cultural e mental de Ourique - onde a planície alentejana acaba e começa a serra algarvia - como um anticorpo. A comunicação nunca se consolidou. Mas com o tempo o vencido tornou-se vencedor: Ourique nunca mais seria a mesma desde aquela noite de Dezembro de 82. Nessa noite os camponeses ficaram a saber que a sua vontade conta. Nunca ninguém lhes havia dito isso antes.
Francisco Felgueiras tropeçou na morte numa destas madrugadas. Morreu como viveu: só. Foi sepultado na Cuba. Nesse dia, mas exactamente dez anos antes, descia à cova Zeca Afonso. Ao "estrangeirado" de Ourique podiam lançar-lhe na campa qualquer jogral de Grândola.

Jornal Público, Primavera de 1997


terça-feira, julho 28, 2009

Implicito...

Luís Fazenda admitiu sair da Assembleia da República se for eleito vereador e tiver pelouros. O mesmo é dizer: Se me acontecer o mesmo que aconteceu ao Zé Sá Fernandes eu fico na Câmara, têm é que me pagar ordenado! Não se percebe qualquer interesse por detrás desta afirmação!!

Robert Doisneau – fotógrafo da evolução histórica

Robert Doisneau, Down to the Factory, 1946




Robert Doisneau, fotógrafo francês do quotidiano e da sociedade trabalhadora parisiense, revela no seu trabalho uma extraordinária capacidade de definir o conflito entre o “presente” e o “futuro” histórico, isto é, a previsão da evolução histórica.
Assim, a sua obra tem a capacidade de sintetizar e transmitir de uma forma realista e interventiva o instante que se esvai, de tão breve, ao mesmo tempo que nos leva a reflectir sobre as dinâmicas sociais e económicas e a imaginar a sociedade do futuro.





alfa

segunda-feira, julho 27, 2009

Novo Single





David Fonseca voltou, na 2.ª feira, com um novo single que disponibiliza gratuitamente no seu site. Depois da festa, que era o seu último album, parece que o compositor e cantor adoptou um estilo mais melancólico. Este single fará parte de um albúm que ainda não tem nome e deverá ser lançado em Outubro. Por enquanto o single está aí para se ouvir.

Róisín Murphy

É impossível falar de Róisín Murphy sem falarmos dos Moloko, uma das bandas inglesas mais importantes no movimento electrónico, da qual era voz e alma. Êxitos como “Sing It Back” continuarão a marcar o ritmo das pistas de dança de todo o mundo.

Dois álbuns e muita estrada depois, a menina Irlandesa que se mudou para Manchester aos 12 anos, tornou-se, per si, uma referência incontornável. Devido a dois belíssimos álbuns, “Ruby Blue” (2005) e “Overpowered” (2007) colocou-se na boca do mundo e nas colunas de qualquer festa que se preze.

O primeiro, produzido pelo guru da electrónica Matthew Herbert, incluía o single “"If We're in Love", que viria a fazer parte da banda sonora da série americana “Grey's Anatomy”.

Com “Overpowered”, o álbum, e “Overpowered”, o single, Róisín Murphy, dá o definitivo salto para a notoriedade mundial, como artista em nome próprio. Os concertos sucedem-se em ambiente de grande festa.

O Mar...

por Ashleymaccabe




"O mar faz tudo o que lhe pedires." - disseram-me.
Então pedi ao mar que fizesse ondas,
o mar fez ondas...
Pedi ao mar para parar,
o mar parou!
Pedi-lhe que voltasses.
E o mar...
O mar suspirou.

domingo, julho 26, 2009

Reflexão sobre o exercício do poder a propósito do retrato do rei Luís XV

Luís XV, Rei de França e Príncipe de Andorra,
Conde da Provença, Conde de Diois, Conde de Valentinois,
Conde de Barcelona, Conde da Sardenha, Conde do Rossilhão,
Conde de Forcalquier e das ilhas adjacentes e Delfim de Viena







Por vezes, o exercício prolongado do poder faz o seu “ocupante” perder a sua própria identidade pessoal e assumir outra determinada pela "forma" e pelo “modelo” que assume o seu próprio poder.
Então, esse político protege-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar os outros que lhe fazem a crítica e que poderiam norteá-lo para corrigir os seus erros e ajudá-lo a superar as suas contradições.



alfa

La Fura dels Baus

Clique na imagem para aceder ao site do Grupo



Grupo de teatro catalão que se notabilizou pelos seus espectáculos polémicos e visualmente poderosos. Fundado em 1979, começou por fazer espectáculos de rua, mas ganhou alguma projecção interna com a peça Lenguaje Furero (1983), que se inseriu num ciclo mais amplo de espectáculos a que apelidaram de Accions. Com estes espectáculos, imprimiram um novo conceito teatral alicerçado na utilização de numerosos recursos cénicos como música, dança, pirotecnia, uso de materiais naturais e interacção com o espectador, criando uma simbiose entre actor e autor, fundindo-se numa mesma criação colectiva. Em 1992, foram convidados para realizar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Os pontos altos da década de 90 foram os seus espectáculos Fausto Version 3.0 (1998) e Ombra (1998) sobre o poeta Federico Garcia Lorca e que foi apresentado com grande adesão do público na Expo 98. (...)



sábado, julho 25, 2009

Henri Fantin-Latour (1836-1904)







De 26/06/2009 a 06/09/2009


Das 10h00 às 18h00


De Terça a Domingo


Galeria de Exposições da Sede






Primeiro em Lisboa, depois em Madrid, esta exposição, organizada em parceria com o Museu Thyssen Bornemisza, apresenta cerca de 60 pinturas e alguns desenhos preparatórios agrupados em várias secções distintas. Seguindo a cronologia de produção do autor, são mostrados: auto-retratos, cópias executadas pelo pintor no Louvre, retratos intimistas, naturezas-mortas da sua fase de juventude, estudos e leituras, retratos de artistas e escritores seus contemporâneos, bouquets de rosas e flores diversas, temas associados à música, retratos austeros e retratos familiares, temas simbolistas e, finalmente, naturezas-mortas da fase de maturidade.






Comissário: Vincent Pomarède (Museu do Louvre)




Entrada: 4€


Museu Calouste Gulbenkian

sexta-feira, julho 24, 2009

Nouvelle Vague


Nouvelle Vague é um colectivo musical francês arranjado por Marc Collin e por Olivier Libaux. O nome deles é um jogo de palavras, referindo-se simultaneamente à "francesidade" deles, ao movimento artístico do cinema francês Nouvelle Vague, dos anos 60, à fonte das suas canções (todas são covers de músicas punk e new wave dos anos 80) e ao uso do estilo Bossa nova, também dos anos 60.

Os Nouvelle Vague apresentam-nos agora o seu mais recente albúm, sucessor de Bande a Part, cujo nome é apenas III

quinta-feira, julho 23, 2009

Circo Abusivo







Com sede espiritual em Valtelatija, destino de antigas migrações ciganas entre os lagos e montanhas dos Alpes italianos, o grupo Circo Abusivo cumpre desde 2001 a missão a que se propôs: fazer a festa, mas não uma festa qualquer, fazer a festa total, porque só assim vale a pena montar o chapitô. Com um disco acabado de sair - “Valtellazija Revolucija” -, onde participa Eugene Hütz, líder dos Gogol Bordello, os Circo Abusivo colocam em palco a mesma energia explosiva e o mesmo humor desarmante da banda americana(...). Música cigana dos Balcãs, klezmer, polka, samba, tarantella, surf-rock, mazurka, jingles publicitários, genéricos televisivos, enfim, todas as músicas capazes de dar o seu contributo para uma grande celebração da vida são engolidas pela orquestra louca encabeçada pelo acordeonista e vocalista Alex de Simoni e devolvidas ao público sob a forma de um jacto coeso de luz e felicidade. Nova e velha, próxima e distante, música de dança libertadora para usar e abusar (...).

A permanente actualidade de Shakespeare


Alberto Giacometti
Praça, 1947-1948 Bronze
Peggy Guggenheim Collection, New York City




“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim?”



William Shakespeare, Hamlet






Há 400 anos que o solilóquio de Hamlet provoca debates. Alguns afirmam que a fala se refere ao eterno jogo instinto versus vontade. Outros, que o excessivo desenvolvimento do intelecto, do racionalismo, nos paralisa.
Ou será, antes, o sintoma da hesitação do homem que ganha a consciência de que seu destino não é previamente determinado, mas sim construído colectivamente?


alfa

quarta-feira, julho 22, 2009

O Alentejo tem uma História por contar!

Silva Porto, Colheita – Ceifeiras, 1893.


O Museu Etnográfico de Serpa exibe um curioso artefacto. É um cesto de vime em forma de cabaça: largo no fundo e estreito na boca. Um bonito cesto, dizem os visitantes. Raros sabem estar diante de um objecto concebido como instrumento de humilhação.
O cesto é do tempo em que se trabalhava de ar a ar nos campos do sul. Ar a ar e mais do que de sol a sol: pegava-se no trabalho à primeira tímida c1aridade do dia, antes do sol despontar e largava-se depois do sol-posto, ate já não haver mais luz.
O objecto servia para conter azeitonas postas pelo patrão para o comer dos ranchos. Cada trabalhador rural só podia servir-se uma única vez das azeitonas do cesto. Metia lá dentro a mão e trazia os frutos negros. Mas a boca do cesto é propositadamente esguia e estreita. Uma mão fechada sobre um punhado de azeitonas não cabe por ela. Assim, cada rural não conseguia apanhar mais do que duas ou três azeitonas que puxava mal equilibradas na ponta dos dedos. Os dedos alongavam-se sobre o magro conduto que, assim, ainda se tornava mais magro. Estas azeitonas eram, por vezes, o único acompanhamento que um homem tinha para a dentada de pão de trigo com que se alimentava no intervalo de um trabalho duro - de ar a ar. Eis a perfídia escondida atrás de um elegante cesto de delicado vime.
O mesmo cesto fazia parte de um tempo que uma já envelhecida geração de alentejanos se recusa a esquecer: o tempo em que um atraso de minutos na chegada ao local da monda, da ceifa, da tiragem da cortiça ou da safra da azeitona equivalia a que o feitor ou manageiro já não deixassem o trabalhador pegar no trabalho, perdendo este o dia de salário. Isto depois de ter palmilhado léguas e léguas para lá chegar.
O tempo em que os patrões não davam transporte e os rurais, mulheres e homens, iam a pé para as herdades, quilómetros e quilómetros, os cães a ladrarem-lhes aos caminhos, saindo estremunhados de casa a meio da noite, voltando embrutecidos de trabalho quando a lua se levantava no céu.
O tempo em que nem o cantar à noite era paliativo, porque o proibia a Guarda Republicana a golpes de cavalo-marinho.
O tempo em que o vinho sem petisco enganava a tristeza e a solidão das noites sem futuro e as bebedeiras pregavam partidas à fome.
O tempo em que os filhos não eram meninos, mas se agarravam ao sacho e à foice aos oito ou nove anos de idade, por vezes apenas a troco de miserável comida.
O tempo em que as intempéries prendiam os homens em casa não os deixando ganhar um só tostão. Era então, nos longos invernos de enxurrada, que as Casas do Povo organizavam uma espécie de sopa dos pobres para matar a fome a famílias em desespero.
O tempo em que um homem era levado para a cadeia entre dois guardas a cavalo por ter apanhado um punhado de bolotas para enganar a fome dos filhos. O tempo em que um braçado de lenha para a lareira doméstica apanhado num montado valia uma dose de bastonadas no posto da GNR a humilhante fama de ladrão.
O tempo em que um protesto, uma sugestão de discordância, um amuo valiam a um homem o epíteto de comunista e lhe dava direito a não ser aceite em nenhuma herdade devido à solidariedade dos agrários.
O tempo em que uma só sardinha alimentava pai, mãe e três ou quatro filhos. A chaminé era a bitola para a justa divisão da sardinha. Ficava com o lombo aquele cuja cabeça chegasse ao ponto mais alto da chaminé.
Esta é uma gesta que ainda está por escrever. Parece uma história inventada e, contada, há quem duvide. Mas era assim mesmo e há uma geração que não esquece.






in Público, 3 de Julho de 1994

Ladyhawke





A neo-zelandesa Pip Brown, mais conhecida como Ladyhawke, estreia-se agora num disco onde a pop da década de 80 é o ponto de partida para alguns dos mais certeiros singles do ano. A cantora de 27 anos apresenta aqui a sua primeira incursão a solo depois de ter integrado os conterrâneos Two Lane Backtop e os australianos Teenager, e essa experiência prévia talvez a tenha ajudado a desenvolver um disco onde se ocupa de quase tudo, já que toca todos os intrumentos e encarrega-se ainda da composição e grafismo. Ladyhawke deixa evidente muitas reminiscências dos anos 80 em 12 canções com potencial de single, quase todas peças pop com cerca de três minutos, refrões que rapidamente se decoram e cantarolam e uma luminosidade contagiante que desculpa excessos de nostalgia.
Entre os principais está a colagem, por vezes demasiado vincada, a muitas referências de há 20 anos e algumas mais recentes. Tratando-se de um disco de estreia, essa falta de personalidade é compreensível e, felizmente, não impede que o resultado seja ainda dos mais lúdicos e despretensiosos nascidos em 2008, capaz de disparar singles fortes como "Back of the Van" e sobretudo "Paris is Burning", este último criado após uma noite de festa na capital francesa.

terça-feira, julho 21, 2009

Jardinices

A anunciada proposta de lei de revisão constitucional do inefável Alberto João, como carinhosamente o tratam os seus amigos e seguidores, tendo claramente um gato dentro, não perde tempo a esconder-lhe o rabo. Louvemos-lhe a franqueza. Jardim quer ser, com direito a veto por causa das moscas, presidente da região, e é lícito pensar que já alimentava tal ideia na cabeça quando deixou antever, tempos atrás, ainda que com um cauteloso grau de nebulosidade vocabular, o seu abandono da política, dando-nos um gosto que afinal, como as rosas de Malherbes, viria a durar pouco. A inteligência de Jardim não é nada do outro mundo, mas, em compensação, a sua esperteza parece não ter limites. Como limites parece não ter a nossa ingenuidade. Imaginar aquele Berlusconi madeirense fora dos salões e dos gabinetes reservados do poder era o que se poderá chamar um não-ser absoluto, uma contradição em termos. Jardim nasceu para mandar e mandará até ao seu último suspiro. Detestando Portugal como detesta, nunca aceitaria ser presidente da República, bastar-lhe-á sê-lo de Madeira, Porto Santo e Selvagens. No fundo, o que a proposta de lei pretende é estabelecer em Portugal uma constituição configurada à sua própria medida, isto é, curta, redonda, sem bicos.

Uma das pontas incómodas que o querido “leader” madeirense desejaria capar é o negregado comunismo. Receio bem que venha a partir os dentes no intento. Os comunistas têm uma longa e dura experiência de vida na clandestinidade, ilegalizá-los equivaleria a ter de levantar todas as pedras espalhadas por esse Portugal fora para ver se haveria algum escondido debaixo delas. O mais interessante nas próximas horas será o festival de falsos patrotismos que explodirá na Assembleia Regional, com os oradores abraçados às insígnias locais e algum possível espezinhamento e queima da bandeira das quinas por causa dos dois terços de cor vermelha que congestionam ainda mais as rubicundas faces de Jardim. Também será interessante ver como Manuela Ferreira Leite, esse lince da política continental, descalçará esta bota. Recomendo aos meus quatro leitores que estejam atentos aos acontecimentos. Vão ter algo que contar aos seus netos.


in o Caderno do Saramago

Guerra Junqueiro



Em 1896, Guerra Junqueiro descreveu-nos em a “Pátria” desta forma impiedosa e sarcástica. A nós, os Portugueses! Porque Guerra Junqueiro foi uma extraordinária personalidade da transição do século XIX para o século XX e a sua obra literária é uma referência da cultura portuguesa, propomos-lhe uma leitura atenta e crítica.

Afinal, o “assunto” é sobre nós, os Portugueses, e o nosso “carácter”:

Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos no governo sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”



Guerra Junqueiro, “Pátria”, 1896.



Nós, os portugueses, mais de cem anos depois, continuaremos assim como nos considerava Guerra Junqueiro?



segunda-feira, julho 20, 2009

Coligação em Lisboa.

Nunca como agora se falou de convergências à esquerda para as eleições autárquicas em Lisboa. Este apelo, desesperado, serve apenas para elevar o ego de Santana Lopes, que vê toda a esquerda a pedir uma união em volta da candidatura do PS. Por causa deste assunto, muita tinta correu ao redor da aceitação do cargo de mandatário da candidatura do PS, por parte de Carlos do Carmo. Chama-se a atenção para o facto de o fadista, que sempre apoiara o PCP, estar desta vez a apoiar a candidatura de António Costa. Só assim pensa quem olha para a intelectualidade de uma pessoa como propriedade de um partido e não pertença pessoal! Carlos do Carmo está no direito de apoiar o candidato que entender, podendo-se apenas discutir a oportunidade e as razões da sua mudança de opinião.
Mais recentemente, Helena Roseta, avalizada por Manuel Alegre, resolveu dar uma ajuda à vitória do PS nas eleições autárquicas. Foi assim que A. Costa o afirmou! Reconheça-se que esta frase de A. Costa não ajuda aos apelos a coligações, ainda que elas fossem possíveis. Isto porque nas Coligações não se ajuda à vitória de apenas um Partido, ainda que ele mais contribua para essa conquista, mas sim à vitória de um projecto comum com cedências de parte a parte.
Depois de toda esta conversa, muitos já acreditam num final óbvio, no entanto, na minha opinião a CDU devia ter encetado negociações para uma coligação eleitoral em Lisboa. Sei que o argumento da maioria dos camaradas de Partido prende-se com o facto de se estar a fazer uma campanha para as legislativas contra as políticas do PS e uma outra, muito próxima da anterior, a favor de uma coligação com o PS. Não vejo nisso um impedimento e se não se queria uma conotação com Sócrates, a solução passaria pela proposta de afastamento dos líderes partidários da campanha autárquica em Lisboa. Não vejo grande diferença entre A. Costa e Jorge Sampaio ou João Soares, com os quais a CDU já se candidatara coligada, nem tão pouco vejo grande diferença nas políticas do PS de agora com as do passado. Estas coligações trouxeram mais-valias à cidade e foram experiências de sucesso, deixando também a CDU, através delas, uma marca na história da cidade. Seria sempre uma candidatura por um projecto comum e não por um projecto do PS.
foto stefa-zozokovich


Estando a Bela Infanta
no seu jardim assentada,
cum pente de ouro na mão,
cabelos penteava...

domingo, julho 19, 2009

Cantiga, partindo-se


Robert Doisneau, Amor e arame farpado (amor sob a Ocupação Alemã)

Jardim das Tulherias, Paris, 1944



Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo Branco (século XV)




sábado, julho 18, 2009

Solidariedade com o Povo Hondurenho.


Instante

Basque Beach, Julho, 1958, Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C.







No instante

o voo que se funde das aves

na esfera infinita,

na distância impossível,

feita luz,

feita azul,

no princípio do tempo

compõe lentamente o começo do Mundo.


alfa

sexta-feira, julho 17, 2009

Sócrates e a “história do lobo”


Perante a anunciada transformação do primeiro-ministro Sócrates em virtude do resultado das últimas eleições para o Parlamento Europeu e das preocupações com as próximas eleições legislativas e autárquicas, consultámos o filósofo humanista Erasmo de Roterdão, "Elogio da Loucura", que resume essa decisão da seguinte maneira:

"O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma."