Jean-François Millet (1814-1875) As Respigadeiras, 1857, Óleo sobre tela, Paris, Museu d'Orsay
Com Jean-François Millet, os camponeses fazem a sua entrada na pintura naturalista francesa do século XIX, já não como evocadores de um mundo de simplicidade e de inocência, mas como homens autênticos, com a sua energia física e a sua força social.
A dura vida dos camponeses do século XIX constituem o campo de investigação do objecto artístico em Jean-François Millet.
Nesta obra, as mulheres encarnam a miséria do proletariado rural. Estas mulheres são autorizadas a passar rapidamente, antes do pôr-do-sol, pelos campos ceifados para recolher algumas espigas abandonadas.
A pintura representa três respigadeiras em primeiro plano, dolorosamente curvadas e de olhar fixo no solo. Combina a três fases do repetitivo e esgotante movimento que impõe esta tarefa: agachar-se, recolher e levantar-se.
A luz rasante do sol poente marca os volumes do primeiro plano e dá às respigadeiras formas esculturais. Sobressai a vivacidade das suas mãos, nucas, ombros e costas, avivando a cor das suas roupas.
Depois, lentamente, Millet vai esbatendo a distância, produzindo uma atmosfera dourada e poeirenta, intensificando a impressão bucólica do fundo do quadro.
A personagem a cavalo, colocado à direita da composição é seguramente o capataz, encarregado de vigiar os trabalhos da herdade, fazendo com que as respigadeiras cumpram as regras ligadas à sua actividade. Também está presente a diferenciação social, recordando a existência distante dos grandes proprietários.
Através de processos plásticos simples e sóbrios, Millet outorga a estas camponesas, sem dúvida pobres, porém não menos dignas, um valor emblemático, depurado de qualquer miserabilismo.
1 comentário:
Através da arte exprimem-se sentimentos afectivos. Mas a denúncia social e política sempre tiveram na arte um meio privilegiado de denúncia.
Enviar um comentário