Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.
terça-feira, junho 30, 2009
segunda-feira, junho 29, 2009
Amor
…seremos em cada pôr-do-sol uma dádiva de amor, uma carícia à morte eternamente adiada…
domingo, junho 28, 2009
Velha fritando ovos
Uma grandeza solene e meditativa caracteriza a mulher, e o garoto com um melão que estende uma garrafa de vinho observa-nos com uma gravidade semelhante. A representação de idades diferentes da vida recorda-nos o carácter precário das coisas.
O ovo na mão da mulher evoca, numa associação conhecida na época, a instabilidade das coisas terrestres e uma existência no além. Um tom sombrio, indefinível, substitui o espaço muitas vezes sobrecarregado dos interiores das cozinhas holandesas.
sexta-feira, junho 26, 2009
Virgem Suta
Breve reflexão ao correr dos dias…
O que é trágico é que o Homem não aprende com a História, repetindo os mesmos erros. Os homens “não olham para trás”, não compreendem o “tempo curto” e o “tempo longo” históricos, não os interligam numa relação dialéctica, não entendem a mutabilidade social, cultural e mental em permanente interacção.
Assim, há razões para temer pelo futuro!...
quinta-feira, junho 25, 2009
Poesia popular
E isso é verdade, particularmente, no caso dos poetas populares alentejanos.
VERSOS SOBRE O PASSAPORTE SOVIÉTICO (Vladimiro Maiakowski, 1929)
como um lobo
toda a burocracia,
não é comigo
o respeito
por mandatos,
e mando
para o diabo
que os carregue
todos os papéis.
Menos aquele...
Passando ao longo
dos compartimentos
e cabinas
um funcionário,
e que polido,
avança.
Cada um apresenta o passaporte,
e eu,
eu dou
o meu
pequeno bilhete escarlate.
Para alguns passaportes
há sorrisos,
para outros -
vontade de os cuspir.
Têm, por exemplo,
o direito ao respeito
os passaportes
com o leão inglês
em dois lugares.
Devorando
com os olhos o grande personagem
fazendo saudações e curvaturas
pega-se,
como numa gorgeta,
no passaporte
de um americano.
Para o polaco
há o olhar
da cabra frente ao edital.
Para o polaco -
uma fronte enrugada
num
elefantismo policial -
de onde vem este
e que são
estas inovações na Geografia?
Mas é sem voltar
a abóbora-cabeça,
sem experimentar
qualquer emoção forte,
que se aceita
sem pestanejar
os papéis
dos suecos
de todas as
espécies.
Súbito,
como lambida
pelo fogo,
a boca
do cavalheiro
se torce.
O senhor
funcionário
tocou
a púrpura deste meu passaporte.
Toca nele
como se fosse bomba,
toca nele
como se fosse ouriço,
toca nele
como em cobra cascavel,
de vinte dentes,
de dois metros e mais de comprimento.
Cúmplice
piscou
o olho do carregador
que está pronto
a carregar de graça as minhas malas.
O agente
contempla o chui,
e o chui
o agente.
Com que volúpia
me teria,
a espécie policíaca,
batido, crucificado,
porque
tenho nas mãos,
trazendo foice
e trazendo martelo, -
o passaporte
soviético.
Podia devorar
como um lobo
toda a burocracia, -
não é comigo
o respeito
por mandatos,
e mando
para o diabo
que os carregue
todos os papéis,
menos aquele...
Das minhas
profundas algibeiras tirarei
o atestado
deste enorme viático.
Leiam-no bem,
invejem -
eu
sou um cidadão
da União Soviética.
quarta-feira, junho 24, 2009
O tempo do martírio
O Branco matou o meu pai
O meu pai era orgulhoso
O Branco violou a minha mãe
A minha mãe era bela
O Branco curvou o meu irmão sob o sol dos caminhos
O meu irmão era forte
O Branco virou para mim
As suas mãos rubras de sangue
Negro
E com a sua voz de Senhor
Eh, boy, uma cerveja, um guardanapo, água!
David Diop (Poeta Senegalês)
26,6 % é o que tu vales neste momento!
Pois é, Sócrates, eu dou voltas, mais voltas, e a conclusão é sempre a mesma:
26,6 % é o que tu vales neste momento!
E eu tenho uma esperança, cada vez mais forte: por estes dias tu vais dar uma volta, uma volta muita grande, e ficas por lá!
terça-feira, junho 23, 2009
Álvaro Cunhal
Por essa razão, recordamos o importante poema de Pablo Neruda escrito quando o dirigente do PCP estava encarcerado no Forte de Peniche. O poema foi publicado num folheto das Edições Avante, "Contribuições à luta pela libertação de Álvaro Cunhal", e que incluía ainda um apelo de Jorge Amado à libertação do valoroso militante antifascista.
Quando desembarcas
Foi você que pediu um governo assim?!
Logo, um conjunto de comentadores e publicistas que impuseram nas redacções dos órgãos de comunicação social uma mentalidade anti-solidária, aplaudiram e defenderam a destruição do actual modelo social que demorou décadas a erguer.
Mas o que indigna não é apenas a forma como tudo isto é abordado e o tipo de soluções que se propõem!
Há uma indignação que resulta das alarvidades que são ditas. Desde o disparate de se achar um espanto que 60 por cento dos impostos sirvam para pagar salários no Estado. Então qual deveria ser o destino dos impostos senão suportar os serviços públicos? Seria o de subsidiarem as empresas?
Depois, com trombetas de fim de mundo, uns quantos começam a gritar que tudo isto leva à desgraça das finanças públicas, que o dinheiro é pouco e não pode ser gasto com as pessoas, que todo o modelo social construído na Europa do pós-guerra tem de ser revisto de alto a baixo sob pena de uma catástrofe absoluta se abater sobre todos nós!
E assim decorria esta contra-revolução levada a cabo pelo governo PS/Sócrates, perante os aplausos da direita neoliberal, quando a Crise Financeira se instalou e os alicerces do Sistema começaram a ruir.
Então, o dinheiro que alguns juravam faltar para o Sistema Social, da Saúde ou da Educação, apareceu não se sabe vindo de onde. E por milagre, logo milhões de euros a perder de vista para serem enterrados no Banco Português de Negócios e no Banco Privado Português.
Então, as cassandras neoliberais que choravam o dinheiro “gasto” com o povo, explicaram-nos a nova lógica: males ainda maiores viriam a seguir!
Ele há coisas do arco da velha!...
alfa
segunda-feira, junho 22, 2009
mudança...
domingo, junho 21, 2009
A revolução socrática
V. de Magalhães Vilhena, O Problema de Sócrates
sábado, junho 20, 2009
A Dança
sexta-feira, junho 19, 2009
Entrei no café com um rio na algibeira
A sua mensagem, sempre actual, é a vivência real de um homem e autor com os cinco sentidos despertos para tudo o que o rodeia, colocando o seu individualismo ao serviço da urgência do social. A sua vasta obra reflecte este seu desejo de mudar esse Mundo, o que acredita fazer com o poder da palavra.
quinta-feira, junho 18, 2009
Nós, os portugueses…
Lá vai o português, lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio - índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea de sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança: fica logo com oito séculos.
No grande atlas dos humanos talvez figure como um ser mirrado de corpo, mirrado e ressequido, mas que outra forma podia ele ter depois de tantas gerações a lavrar sal e cascalho? Repare-se que foi remetido pelos mares a uma estreita faixa de litoral (Lusitânia, assim chamada) e que se cravou nela com unhas e dentes, com amor, com desespero ou lá o que é. Quer isto dizer que está preso à Europa pela ponta, pelo que sobra dela, para não se deixar devolver aos oceanos que descobriu com muita honra. E nisso não é como o coral que faz pé-firme num ondular de cores vivas, mercados e joalharia; é antes como o mexilhão cativo, pobre e obscuro, já sem água, todo crespo que vive a contra-corrente no anonimato do rochedo. De modo que quando a tormenta varre a Europa é ele que a suporta e se faz pedra, mais obscuro ainda.
Tem pele de árabe, dizem. Olhos de cartógrafo, travo de especiarias. Em matéria de argúcias será judeu, porém não tenaz: paciente apenas. Nos engenhos da fome, oriental. Há mesmo quem lhe descubra qualquer coisa de grego, que é outra criatura de muitíssima História.
Chega-se a perguntar: está vivo? É claro que está: vivo e humilhado de tanto se devorar por dentro. Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e que herdou dos mais heróicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor. Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado.
Lá anda, é deixá-lo. Coberto de luto, suporta o sol africano que coze o pão na planície; mais a norte veste-se de palha e vai atrás da cabra pelas fragas nordestinas. Empurra bois para o mar, lavra sargaços; pesca dos restos, cultiva na rocha. Em Lisboa, é trepador de colinas e calçadas; mouro à esquina, acocorado diante do prato. Em Paris e nos Quintos dos Infernos topa-a-tudo e minador. Mas esteja onde estiver, na hora mais íntima lembrará sempre um cismador deserto, voltado para o mar.
É um pouco assim o nosso irmão português. Somos assim, bem o sabemos.
Assim, como?
José Cardoso Pires, in álbum de fotografias Gentes, de Eduardo Gageiro
quarta-feira, junho 17, 2009
Do tempo passado,
terça-feira, junho 16, 2009
Ferdinand Hodler
A composição estrutura-se na conjugação e equilíbrio das linhas de força - as verticais dos troncos e a diagonal do corpo do lenhador. O preciso momento em que o trabalhador ergue firmemente o machado é acompanhado pela vigorosa expressão corporal em aparente desequilíbrio sustentado pelo jogo subtil dos pés. Todo o corpo se ergue em esforço e o rosto inclina-se em contrapeso, fixando a linha de corte da árvore.
Hodler captou magistralmente a energia do movimento do lenhador e fixou a tensão de um instante. Não existem outros exemplos de uma tal sugestão do gesto de um camponês, imortalizado em pleno trabalho e transformado em figura heróica, a não ser nas pinturas de Millet.
O fundo esbranqueado e a linha do horizonte baixa exaltam magnificamente a figura quase sobre-humana do lenhador. Esta destaca-se claramente sobre o céu, que adquire maior relevo graças à forma ovalada cinza azulada de uma estranha nuvem. Esta grande figura de Hodler, que se encontra a meio caminho entre o simbolismo e o expressionismo, é absolutamente representativa da última fase da obra deste artista.
segunda-feira, junho 15, 2009
"Home - O Mundo é a Nossa Casa"
Género:
Documentário
Duração: 120m
Realização:
Yann Arthus-Bertrand
Credo
Creio no lucro, seu tão legítimo filho, e no crédito, o Espírito-Santo, que dele procede e com ele é adorado.
Creio no Ouro e na Prata, os quais, torturados na Casa da Moeda, fundidos nos cadinhos e martelados nas máquinas, reaparecem ao mundo como moeda legal; e que, depois de circularem por toda a terra, descem às caves do banco para ressuscitar como Papel-Moeda.
Creio no juro de cinco por cento, de quatro ou três por cento e na Cotação real dos valores.
Creio no Grande Livro da Dívida Pública, que protege o Capital dos riscos do Comércio, da Indústria e da Usura.
Creio na Propriedade individual, fruto do trabalho dos outros e na sua continuidade até ao fim dos séculos.
Creio na necessidade da Miséria, fonte dos assalariados e mãe do sobretrabalho.
Creio na Eternidade do Salariato, que livra o trabalhador das preocupações da propriedade.
Creio no prolongamento do dia de trabalho e na redução dos salários e também na falsificação dos produtos.
Creio no dogma sagrado: COMPRAR BARATO E VENDER CARO. E, do mesmo modo, creio nos princípios eternos da nossa Santa Igreja, a Economia política oficial. Amém.
quarta-feira, junho 10, 2009
Cinema Paradiso (Cinema Paraíso)
O pequeno Salvatore, de alcunha Toto, vive durante os anos do após-2ª Guerra Mundial numa aldeia siciliana.
Salvatore ocupa parte significativa do seu tempo no cinema, no Largo da aldeia, onde se torna grande amigo do projeccionista Alfredo.
Mais tarde, tornando-se projeccionista, desencadeia uma revolução local ao projectar, pela primeira vez, um filme não censurado.
É uma história, simultaneamente, cómica e melancólica, satírica e nostálgica, que tem fascinado sucessivas gerações pela sensibilidade com que aborda as emoções humanas e o desejo de realização pessoal.
O filme referindo-se a um tempo e espaço específicos, pela análise psicológica e social dos seus personagens adquire uma dimensão intemporal mantendo a sua actualidade e pertinência. Ainda que aqui, em Cuba (ou em Faro do Alentejo…), e agora, em 2009.
O filme confronta-nos com a solidão e o imobilismo de uma aldeia siciliana das décadas de 1940 e 1950 e a brutal transformação, urbana, social e cultural, que se verificou a partir dos anos 60.
A abordagem individual ou social é profundamente intimista, dramática ou irónica, ao mesmo tempo que a própria evolução do filme nos coloca como espectadores do percurso pessoal de um conjunto de intervenientes.
O tempo que nos cabe viver é substancialmente diferente. A mobilidade social, a facilidade das comunicações, as novas tecnologias e a democratização da escolaridade, por exemplo, diferenciam profundamente a época abordada no filme e os dias que, velozmente, nos escorregam entre os dedos.
No entanto, há aspectos da condição humana que persistem: a procura da felicidade pessoal e da realização profissional permanecem como elementos centrais da vida de cada um de nós.
Acontece, que, por vezes, o caminho é demasiado escarpado e estreito para subir tão difícil montanha!
alfa
terça-feira, junho 09, 2009
O cante alentejano
É um cantar a dar conta do homem e do seu mundo. Um mundo vacilante e frágil, entre o desejo de ficar e a vontade de partir. Como o Alentejo: preso à raiz e forçado a voar, se quiser sobreviver.
O Alentejo canta em coro, como sempre o terá feito. Mas o grupo coral não é voz de uma solidão colectiva: é a adição de solidões individuais.
Nem o próprio cantar é uniforme. Tem altos e baixos. As vozes não soam todas ao mesmo tempo. Há um ponto, um alto, um baixo. Sons que se destacam no entoar da moda, que é a soma da letra com a musicalidade das vozes.
A moda evolui, como tudo. A moda nasceu dos despiques da taberna, em redor do copo de vinho, nos ranchos da ceifa e da monda. Nasceu ao anoitecer no regresso dos ceifeiros a casa. Rompeu com os primeiros raios do astro, a surpreender os ranchos vergados sobre o trigo quando o trabalho se fazia "de sol a sol".
O cante retrata a solidão e a tristeza. O amor e o trabalho. A alegria. O sol e a terra. O suor. Canta o trigo e as cegonhas. A emigração e a barragem de Alqueva. Canta a morte e a vida. Angústias e sonhos. Canta o homem perdido em inalcançáveis longitudes. É terno e quente. Ingénuo e grave. Sóbrio e triste. Solene como uma catedral. E, como ela, eleva-se da terra, atingindo alturas tais que se mistura com o lamento dos descampados, não se sabendo já se são criaturas ou os próprios plainos que assim gemem.
Vem com a lua e com ela atravessa os ares. Temeroso, talvez, de o sol não voltar a nascer.
segunda-feira, junho 08, 2009
UTOPIA TRIUNFA EM MARINALEDA
in jornal expresso, 8 de março 2008
Esta semana tive acesso à história deste oásis Socialista no meio da Península Ibérica, através da revista Visão. Aconselho a sua leitura e a visita ao site de marinaleda.
Oração Dominical
Dai-nos muitos compradores para as nossas mercadorias, sejam elas más ou boas.
Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e se contentem com o mais vil dos salários.
Dai-nos todos que acreditem nas nossas promessas.
Fazei com que os nossos devedores paguem integralmente as suas dívidas e que os bancos descontem as nossas letras.
Fazei com que a prisão de Mazas (2) nunca se abra para nós e afastai para longe a falência.
Concedei-nos rendimentos perpétuos. Amém.
Paul Lafargue, A Religião do Capital, jornal Le Socialiste, 1886
domingo, junho 07, 2009
Política vs Personalidade
sábado, junho 06, 2009
sexta-feira, junho 05, 2009
Quem mais trabalhou no Parlamento Europeu!?
O capital cultural do Homem e a nossa Casa Comum
O capital cultural do Homem constitui um património colectivo, resultante de um processo dinâmico de desenvolvimento em determinado(s) tempo(s) e lugar(es). Este capital cultural acrescenta-se através da interiorização, da aprendizagem, da criatividade individual e colectiva e pelo intercâmbio das ideias e das técnicas.
Numa época caracterizada, simultaneamente, por diferentes ritmos de desenvolvimento económico e tecnológico e pela mundialização da informação, a substituição de um comportamento autista e isolacionista por uma atitude universalista determinada pela mediação e pela partilha, favorece a interacção e a inserção dos vários grupos socioculturais no macrocosmos, na aldeia global, na casa comum, produto milenar da aventura humana.
As continuidades políticas ou culturais, sociais ou económicas, não se medem já em períodos de séculos, mas em decénios ou anos. Muitas referências perdem relevância intergeracional.
Assim, é essencial neste tempo caracterizado pela mobilidade alargada de pessoas, mercadorias, capitais e ideias, pela mundialização dos interesses e das trocas e pela efectiva influência mútua e interdependência mundial, reflectir sobre a produção cultural do homem, todo um processo milenar de ruptura e de progresso, de conflito e de intercâmbio, de permanência e de transformação, afinal a herança e o testemunho de todos os homens e civilizações.
alfa
quinta-feira, junho 04, 2009
Millet
Jean-François Millet (1814-1875) As Respigadeiras, 1857, Óleo sobre tela, Paris, Museu d'Orsay
Com Jean-François Millet, os camponeses fazem a sua entrada na pintura naturalista francesa do século XIX, já não como evocadores de um mundo de simplicidade e de inocência, mas como homens autênticos, com a sua energia física e a sua força social.
A dura vida dos camponeses do século XIX constituem o campo de investigação do objecto artístico em Jean-François Millet.
Nesta obra, as mulheres encarnam a miséria do proletariado rural. Estas mulheres são autorizadas a passar rapidamente, antes do pôr-do-sol, pelos campos ceifados para recolher algumas espigas abandonadas.
A pintura representa três respigadeiras em primeiro plano, dolorosamente curvadas e de olhar fixo no solo. Combina a três fases do repetitivo e esgotante movimento que impõe esta tarefa: agachar-se, recolher e levantar-se.
A luz rasante do sol poente marca os volumes do primeiro plano e dá às respigadeiras formas esculturais. Sobressai a vivacidade das suas mãos, nucas, ombros e costas, avivando a cor das suas roupas.
Depois, lentamente, Millet vai esbatendo a distância, produzindo uma atmosfera dourada e poeirenta, intensificando a impressão bucólica do fundo do quadro.
A personagem a cavalo, colocado à direita da composição é seguramente o capataz, encarregado de vigiar os trabalhos da herdade, fazendo com que as respigadeiras cumpram as regras ligadas à sua actividade. Também está presente a diferenciação social, recordando a existência distante dos grandes proprietários.
Através de processos plásticos simples e sóbrios, Millet outorga a estas camponesas, sem dúvida pobres, porém não menos dignas, um valor emblemático, depurado de qualquer miserabilismo.
quarta-feira, junho 03, 2009
Rita Carmo
Rita Carmo (n.1970, Leiria) é licenciada em Design de Comunicação pela ESBAL. Fotógrafa residente do jornal Blitz desde 1992. Tem fotografias editadas no Expresso, Visão, Ler, DIF…; Melody Maker, Daily Mail (Reino Unido), Rockin’On e Snoozer Mag (Japão), Bizz (Brasil). Em 1995 forma a dupla Espanta Espíritos com António Afonso. Em 1999, é um dos 5 fotógrafos presentes na Fotobiografia dos 20 anos dos Xutos & Pontapés. Em 2003 é autora dos retratos dos 15 Criadores de Moda no livro “15 Histórias de Hábitos” de Cristina L. Duarte (Ed.Quimera e ainda edita pela Assírio & Alvim o álbum fotográfico “altas-luzes”, onde reúne cerca de 200 imagens que retratam momentos únicos da história das actuações ao vivo em Portugal e de sessões fotográficas com artistas. Desta edição resultou uma exposição que já esteve patente em Lisboa, Porto, Gaia, Leiria, Bragança, Fundão, Aveiro, Évora, Moita, Azambuja, Santarém, Palmela, Castelo Branco, Coimbra, Cáceres, Tomar e Espinho. Em Junho de 2005, a convite da Alcatel Portugal e da Numero, expõe no 4ºFestival Portugais no Fnac Forum Les Halles em Paris. Em 2008, no âmbito do Congresso Feminista 2008, expõe na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Para aceder a algumas imagens do seu trabalho basta clicar aqui, neste seu blogue encontrará a indicação de outros blogues da artista, de produções suas ao vivo. É só disfrutar...
terça-feira, junho 02, 2009
Histórias marginais
Histórias como esta há muitas por todo o Alentejo. Marginais à História, elas retratam identidades locais. Pode perceber-se que Messejana (Aljustrel) possa ter sido praia, lá na distância temporal de uma obscura idade geológica. Mas que a cada momento o façam lembrar aos naturais da terra, é graça que já enjoa às próprias pedras.
Sempre que Messejana vem à baila lá está a gracinha da praia. Assunto tabu na vila. Os naturais arrepelam os cabelos sempre que Ihes falam da praia.
A praia de Messejana é matriz para outras histórias do género. Assim, quando a Câmara de Aljustrel ali resolveu construir um depósito de água logo alguém anónimo sugeriu que se tratava de um farol. E junto ao cruzeiro em pedra à entrada da vila dizem ter naufragado Vasco da Gama, numa das suas viagens marítimas à Índia. Mais: em Messejana o marisco é apascentado como os rebanhos de ovelhas e vai-se à pesca usando um fardo de palha como isco.
Piadas a que Messejana não acha graça nenhuma. A maior parte delas é produzida pelos vizinhos de Aljustrel, inchados talvez por Messejana ter mais pergaminhos históricos para apresentar do que a povoação mineira.
Os de Santa Vitória têm fama de “engenheiros”. A aristocracia local, para mostrar obra e engrandecer a terra, exigiu um dia da Câmara ou do Governo – as versões mudam – a construção de uma ponte. Santa Vitória precisava de uma ponte – obra que se visse e não envergonhasse ninguém. “Homem para que querem vocês uma ponte se não têm rio?”, exclamaram espantados os homens da Câmara, ou do Governo. Resposta da rapaziada de Santa Vitória: “Façam lá a ponte que do rio tratamos nós”. Ficaram os “engenheiros”.
Aos de Vila de Frades chamam os da Vidigueira "farrapeiros". Quer dizer: vestidos de farrapos miseráveis, pelintras. É a dor de cotovelo que os faz falar: Vila de Frades foi sede de concelho antes da Vidigueira saber que nome tinha. Os de Vila de Frades devolvem-lhes os mimos chamando aos da Vidigueira "larga o osso". É que, em tempos, a Vidigueira se recusou a entregar a uma comissão vinda de Lisboa, as ossadas atribuídas a Vasco da Gama, que foi conde da vila e repousava no velho Convento do Carmo. O "larga o osso" ficou desde aí como um estigma, de que a Vidigueira nada gosta.
Pedro Ferro, jornal Público, 30 de Outubro de 1992
segunda-feira, junho 01, 2009
Há decisões sensíveis!
A actualidade da Paul Lafargue mais de cem anos depois!...
Paul Lafargue, A Religião do Capital, jornal Le Socialiste, em 27 de Fevereiro de 1886