Dominamos os conhecimentos, através da ciência. Sabemos quais as causas, mas ignoramos as consequências. Temos o conhecimento, mas falta-nos a sabedoria que só é adquirida pela experiência!
Afinal, qual é a medida, de facto, do nosso conhecimento?
alfa
Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.
sexta-feira, julho 31, 2009
Paradoxo
Lykke Li
quinta-feira, julho 30, 2009
Vai alta no céu
Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
Alberto Caeiro
quarta-feira, julho 29, 2009
Não há Festa como o «Avante!».
Artistas da Festa do «Avante!» 2009:
Aldina Duarte
Bandarra
Blind Zero
Carla Pires
Ciganos d'Ouro
Clã
David Fonseca
Francisco Naia
Frei Fado d'El Rei
Gazua
Guy Davis
Hazmat Modine
João Lencastre's Communion
Laurent Filipe
Luísa Amaro
Maria Alice
Maria João e Mário Laginha
Nelson Cascais
Peste & Sida
Roda de Choro de Lisboa
Samuel
Seth Lakeman
Ska P
Skalibans
Tabanka Djaz
Telectu e convidados
Tereza Salgueiro
The Men They Couldn't Hang
The PostCard Brass Band
The Soaked Lamb
Vanessa Alves
Vitorino com os Cantadores do Redondo
Voces del Sur
Willie Nile
A EP - entrada permanente - não é apenas a possibilidade de acesso a dezenas de espectáculos, exposições e tantos outros acontecimentos nos três dias da Festa, mas um acto de solidariedade com a Festa e com o PCP, o promotor daquela que é a maior iniciativa político-cultural que se realiza no país.
Todos os anos é exigido ao PCP um grande esforço financeiro para realizar a Festa e as despesas fazem-se antes da abertura das portas. Por isso, é fundamental que se realizem receitas antecipadamente através da aquisição de EP’s.
Festa do Avante 2009 EP - Titulo de Solidariedade - €19,00 (até 3 de Setembro) €28,00 em 4, 5 e 6 de Setembro, à venda nos Centros de Trabalho do PCP
Naquela noite, em Ourique!
(Serigrafia concebida pelo pintor para o romance de Manuel Tiago, Até Amanhã, Camaradas)
Naquela noite, em Ourique, as eleições para a Câmara não eram uma mera disputa política. Frente a frente estiveram duas culturas. Arrancadas à profundidade da história, emergiram numa só noite crispada as contradições que desde sempre cavaram o fosso entre o Portugal das miudezas e o Portugal universalista.
O Portugal da Inquisição e o do Padre António Vieira. De José Agostinho de Macedo e de Garrett. Ruralidade e cidadania - diante uma da outra, como galos a medirem-se. Nesse inverno de tensões à flor da pele, em Ourique.
A clivagem - nessa campanha eleitoral que despertou a atenção do país - foi transversal. A linha divisória dos dois campos estilhaçava o perímetro identificador dos partidos. Não era de política que se tratava: eram duas culturas que não se entendiam. Dum lado, os senhores de uma população de camponeses encurralados pelo isolamento geográfico. Do outro, um "estrangeirado": Francisco Felgueiras, rodeado apenas de quatro ou cinco crentes como ele - não mais. Um solitário. A quem o lugar era culturalmente hostil.
Os senhores da vila celebrizaram-se nesse Dezembro com uma palavra de ordem estreita e marialva: "ainda há homens em Ourique". Era a reacção instintiva de uma cultura hermética, serrana, temente da novidade e da mudança. Do outro lado dizia-se estradas e portões, saneamento básico e saúde, barragens e jardins de infância.
Naquela noite a contagem dos votos demorava. Noite nevosa. Encapotada num nevoeiro gordo a despegar-se das serranias escuras. Na rua formavam-se grupos. Nervos a estalar: cada um a conter o grito de triunfo ate ao instante supremo da explosão.
O homem da cidade ganhou as eleições. À tangente. Ganhou-as monte a monte. De galochas pelos caminhos enlameados da serra. Ganhou-as a conversar. A escutar. Explicando em voz grave.
Por uma unha negra as ganhou – terminando o mandato não tornou a candidatar-se. Dizia que "povo é povo em qualquer parte do mundo". Foi esta visão uniformizada que o deitou abaixo. A sua urbanidade sempre funcionou no microclima cultural e mental de Ourique - onde a planície alentejana acaba e começa a serra algarvia - como um anticorpo. A comunicação nunca se consolidou. Mas com o tempo o vencido tornou-se vencedor: Ourique nunca mais seria a mesma desde aquela noite de Dezembro de 82. Nessa noite os camponeses ficaram a saber que a sua vontade conta. Nunca ninguém lhes havia dito isso antes.
Francisco Felgueiras tropeçou na morte numa destas madrugadas. Morreu como viveu: só. Foi sepultado na Cuba. Nesse dia, mas exactamente dez anos antes, descia à cova Zeca Afonso. Ao "estrangeirado" de Ourique podiam lançar-lhe na campa qualquer jogral de Grândola.
Jornal Público, Primavera de 1997
terça-feira, julho 28, 2009
Implicito...
Robert Doisneau – fotógrafo da evolução histórica
Assim, a sua obra tem a capacidade de sintetizar e transmitir de uma forma realista e interventiva o instante que se esvai, de tão breve, ao mesmo tempo que nos leva a reflectir sobre as dinâmicas sociais e económicas e a imaginar a sociedade do futuro.
segunda-feira, julho 27, 2009
Novo Single
Róisín Murphy
Dois álbuns e muita estrada depois, a menina Irlandesa que se mudou para Manchester aos 12 anos, tornou-se, per si, uma referência incontornável. Devido a dois belíssimos álbuns, “Ruby Blue” (2005) e “Overpowered” (2007) colocou-se na boca do mundo e nas colunas de qualquer festa que se preze.
O primeiro, produzido pelo guru da electrónica Matthew Herbert, incluía o single “"If We're in Love", que viria a fazer parte da banda sonora da série americana “Grey's Anatomy”.
Com “Overpowered”, o álbum, e “Overpowered”, o single, Róisín Murphy, dá o definitivo salto para a notoriedade mundial, como artista em nome próprio. Os concertos sucedem-se em ambiente de grande festa.
O Mar...
"O mar faz tudo o que lhe pedires." - disseram-me.
Pedi ao mar para parar,
o mar parou!
Pedi-lhe que voltasses.
E o mar...
O mar suspirou.
domingo, julho 26, 2009
Reflexão sobre o exercício do poder a propósito do retrato do rei Luís XV
Conde da Provença, Conde de Diois, Conde de Valentinois,
Conde de Barcelona, Conde da Sardenha, Conde do Rossilhão,
Conde de Forcalquier e das ilhas adjacentes e Delfim de Viena
Por vezes, o exercício prolongado do poder faz o seu “ocupante” perder a sua própria identidade pessoal e assumir outra determinada pela "forma" e pelo “modelo” que assume o seu próprio poder.
Então, esse político protege-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar os outros que lhe fazem a crítica e que poderiam norteá-lo para corrigir os seus erros e ajudá-lo a superar as suas contradições.
alfa
La Fura dels Baus
sábado, julho 25, 2009
Henri Fantin-Latour (1836-1904)
sexta-feira, julho 24, 2009
Nouvelle Vague
quinta-feira, julho 23, 2009
Circo Abusivo
A permanente actualidade de Shakespeare
Ou será, antes, o sintoma da hesitação do homem que ganha a consciência de que seu destino não é previamente determinado, mas sim construído colectivamente?
alfa
quarta-feira, julho 22, 2009
O Alentejo tem uma História por contar!
O cesto é do tempo em que se trabalhava de ar a ar nos campos do sul. Ar a ar e mais do que de sol a sol: pegava-se no trabalho à primeira tímida c1aridade do dia, antes do sol despontar e largava-se depois do sol-posto, ate já não haver mais luz.
O objecto servia para conter azeitonas postas pelo patrão para o comer dos ranchos. Cada trabalhador rural só podia servir-se uma única vez das azeitonas do cesto. Metia lá dentro a mão e trazia os frutos negros. Mas a boca do cesto é propositadamente esguia e estreita. Uma mão fechada sobre um punhado de azeitonas não cabe por ela. Assim, cada rural não conseguia apanhar mais do que duas ou três azeitonas que puxava mal equilibradas na ponta dos dedos. Os dedos alongavam-se sobre o magro conduto que, assim, ainda se tornava mais magro. Estas azeitonas eram, por vezes, o único acompanhamento que um homem tinha para a dentada de pão de trigo com que se alimentava no intervalo de um trabalho duro - de ar a ar. Eis a perfídia escondida atrás de um elegante cesto de delicado vime.
O mesmo cesto fazia parte de um tempo que uma já envelhecida geração de alentejanos se recusa a esquecer: o tempo em que um atraso de minutos na chegada ao local da monda, da ceifa, da tiragem da cortiça ou da safra da azeitona equivalia a que o feitor ou manageiro já não deixassem o trabalhador pegar no trabalho, perdendo este o dia de salário. Isto depois de ter palmilhado léguas e léguas para lá chegar.
O tempo em que os patrões não davam transporte e os rurais, mulheres e homens, iam a pé para as herdades, quilómetros e quilómetros, os cães a ladrarem-lhes aos caminhos, saindo estremunhados de casa a meio da noite, voltando embrutecidos de trabalho quando a lua se levantava no céu.
O tempo em que nem o cantar à noite era paliativo, porque o proibia a Guarda Republicana a golpes de cavalo-marinho.
O tempo em que o vinho sem petisco enganava a tristeza e a solidão das noites sem futuro e as bebedeiras pregavam partidas à fome.
O tempo em que os filhos não eram meninos, mas se agarravam ao sacho e à foice aos oito ou nove anos de idade, por vezes apenas a troco de miserável comida.
O tempo em que as intempéries prendiam os homens em casa não os deixando ganhar um só tostão. Era então, nos longos invernos de enxurrada, que as Casas do Povo organizavam uma espécie de sopa dos pobres para matar a fome a famílias em desespero.
O tempo em que um homem era levado para a cadeia entre dois guardas a cavalo por ter apanhado um punhado de bolotas para enganar a fome dos filhos. O tempo em que um braçado de lenha para a lareira doméstica apanhado num montado valia uma dose de bastonadas no posto da GNR a humilhante fama de ladrão.
O tempo em que um protesto, uma sugestão de discordância, um amuo valiam a um homem o epíteto de comunista e lhe dava direito a não ser aceite em nenhuma herdade devido à solidariedade dos agrários.
O tempo em que uma só sardinha alimentava pai, mãe e três ou quatro filhos. A chaminé era a bitola para a justa divisão da sardinha. Ficava com o lombo aquele cuja cabeça chegasse ao ponto mais alto da chaminé.
Esta é uma gesta que ainda está por escrever. Parece uma história inventada e, contada, há quem duvide. Mas era assim mesmo e há uma geração que não esquece.
Ladyhawke
Entre os principais está a colagem, por vezes demasiado vincada, a muitas referências de há 20 anos e algumas mais recentes. Tratando-se de um disco de estreia, essa falta de personalidade é compreensível e, felizmente, não impede que o resultado seja ainda dos mais lúdicos e despretensiosos nascidos em 2008, capaz de disparar singles fortes como "Back of the Van" e sobretudo "Paris is Burning", este último criado após uma noite de festa na capital francesa.
terça-feira, julho 21, 2009
Jardinices
Uma das pontas incómodas que o querido “leader” madeirense desejaria capar é o negregado comunismo. Receio bem que venha a partir os dentes no intento. Os comunistas têm uma longa e dura experiência de vida na clandestinidade, ilegalizá-los equivaleria a ter de levantar todas as pedras espalhadas por esse Portugal fora para ver se haveria algum escondido debaixo delas. O mais interessante nas próximas horas será o festival de falsos patrotismos que explodirá na Assembleia Regional, com os oradores abraçados às insígnias locais e algum possível espezinhamento e queima da bandeira das quinas por causa dos dois terços de cor vermelha que congestionam ainda mais as rubicundas faces de Jardim. Também será interessante ver como Manuela Ferreira Leite, esse lince da política continental, descalçará esta bota. Recomendo aos meus quatro leitores que estejam atentos aos acontecimentos. Vão ter algo que contar aos seus netos.
in o Caderno do Saramago
Guerra Junqueiro
Em 1896, Guerra Junqueiro descreveu-nos em a “Pátria” desta forma impiedosa e sarcástica. A nós, os Portugueses! Porque Guerra Junqueiro foi uma extraordinária personalidade da transição do século XIX para o século XX e a sua obra literária é uma referência da cultura portuguesa, propomos-lhe uma leitura atenta e crítica.
Afinal, o “assunto” é sobre nós, os Portugueses, e o nosso “carácter”:
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos no governo sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”
Guerra Junqueiro, “Pátria”, 1896.
Nós, os portugueses, mais de cem anos depois, continuaremos assim como nos considerava Guerra Junqueiro?
segunda-feira, julho 20, 2009
Coligação em Lisboa.
domingo, julho 19, 2009
Cantiga, partindo-se
Robert Doisneau, Amor e arame farpado (amor sob a Ocupação Alemã)
Jardim das Tulherias, Paris, 1944
Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castelo Branco (século XV)
sábado, julho 18, 2009
Instante
No instante
o voo que se funde das aves
na esfera infinita,
na distância impossível,
feita luz,
feita azul,
no princípio do tempo
compõe lentamente o começo do Mundo.
alfa
sexta-feira, julho 17, 2009
Sócrates e a “história do lobo”
Perante a anunciada transformação do primeiro-ministro Sócrates em virtude do resultado das últimas eleições para o Parlamento Europeu e das preocupações com as próximas eleições legislativas e autárquicas, consultámos o filósofo humanista Erasmo de Roterdão, "Elogio da Loucura", que resume essa decisão da seguinte maneira:
"O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma."