Honoré Daumier, A Lavadeira, c. 1863, Óleo sobre madeira. Museu d’Orsay, Paris
Daumier, pintor realista, evoca o povo trabalhador das grandes cidades industriais francesas do século XIX. Revela-se um artista versátil desenvolvendo trabalhos no campo da pintura e da escultura, mas é sobretudo na caricatura, onde utiliza a litografia, que se revela um exímio e sagaz observador político e social, registando as condições de vida e principalmente de trabalho do proletariado urbano do século XIX.
Ao contrário das lavadeiras de Boucher e de Fragonard do século XVIII, a lavadeira de Daumier está despojada do aspecto lúdico e gracioso para revelar o realismo social e a dureza de um trabalho esgotante, cujo fardo é diariamente renovado ao serviço das famílias burguesas da sociedade industrial. O tratamento dado à forma feminina revela o esforço e o esgotamento provocado pelo trabalho no aspecto físico e psicológico. A pincelada vai construindo as formas através da mancha cromática. Os tons ocres escuros reflectem a sombria e tristonha vida deste proletariado. Não se distinguem as linhas do rosto. Estas mulheres eram heroínas anónimas, sem rosto. Eram mães e esposas. Partilhavam os seus magros recursos com o marido e os filhos. A família era uma unidade de produção que sobrevivia graças à conjugação de esforços e do trabalho dos seus membros. Os magros salários apenas permitiam mitigar a fome.
Distingue-se uma mistura de resignação e de ternura, da mãe que ajuda a filha a subir até ao cimo das escadas. Com a pá na mão, a criança parece partilhar e perpetuar a pesada tarefa materna. Criança sem infância, perdida desde cedo nos labirintos do trabalho infantil. A pá da cinza que se misturava na barrela. Mãe e filha em comunhão de esforço, de vida e de afectos.
Num segundo plano, a composição fecha-se com a referência às moradias de um bairro burguês parisiense, cenário de luz, sem dúvida previamente observado com precisão, mas que, pelo seu aspecto inacabado, desempenha, aqui, um papel secundário. É o mundo de luz, luxo e bem-estar da burguesia capitalista que sobrevive do trabalho duro de homens, mulheres e crianças socialmente desprotegidos.
A atenção que leva aos humildes resume-se nesta preocupação de força e de monumentalidade que recorda Miguel Ângelo, mostrando ao espectador uma espécie de “alegoria real”.
Daumier, pintor realista, evoca o povo trabalhador das grandes cidades industriais francesas do século XIX. Revela-se um artista versátil desenvolvendo trabalhos no campo da pintura e da escultura, mas é sobretudo na caricatura, onde utiliza a litografia, que se revela um exímio e sagaz observador político e social, registando as condições de vida e principalmente de trabalho do proletariado urbano do século XIX.
Ao contrário das lavadeiras de Boucher e de Fragonard do século XVIII, a lavadeira de Daumier está despojada do aspecto lúdico e gracioso para revelar o realismo social e a dureza de um trabalho esgotante, cujo fardo é diariamente renovado ao serviço das famílias burguesas da sociedade industrial. O tratamento dado à forma feminina revela o esforço e o esgotamento provocado pelo trabalho no aspecto físico e psicológico. A pincelada vai construindo as formas através da mancha cromática. Os tons ocres escuros reflectem a sombria e tristonha vida deste proletariado. Não se distinguem as linhas do rosto. Estas mulheres eram heroínas anónimas, sem rosto. Eram mães e esposas. Partilhavam os seus magros recursos com o marido e os filhos. A família era uma unidade de produção que sobrevivia graças à conjugação de esforços e do trabalho dos seus membros. Os magros salários apenas permitiam mitigar a fome.
Distingue-se uma mistura de resignação e de ternura, da mãe que ajuda a filha a subir até ao cimo das escadas. Com a pá na mão, a criança parece partilhar e perpetuar a pesada tarefa materna. Criança sem infância, perdida desde cedo nos labirintos do trabalho infantil. A pá da cinza que se misturava na barrela. Mãe e filha em comunhão de esforço, de vida e de afectos.
Num segundo plano, a composição fecha-se com a referência às moradias de um bairro burguês parisiense, cenário de luz, sem dúvida previamente observado com precisão, mas que, pelo seu aspecto inacabado, desempenha, aqui, um papel secundário. É o mundo de luz, luxo e bem-estar da burguesia capitalista que sobrevive do trabalho duro de homens, mulheres e crianças socialmente desprotegidos.
A atenção que leva aos humildes resume-se nesta preocupação de força e de monumentalidade que recorda Miguel Ângelo, mostrando ao espectador uma espécie de “alegoria real”.
Ceujaime
3 comentários:
A realidade está sempre um passo à frente de nós. É por isso que precisamos da arte que "olha" a realidade de forma permanentemente inovadora, permitindo um novo olhar sobre as pessoas e as relações sociais.
Com Daumier verifica-se uma fractura ao nível estético entre a classe dominante e a nova geração de artistas. Agora, Daumier e Millet, assumem-se como realistas, retratistas da realidade social, e pretendem "fixar" as contradições sociais e políticas do seu tempo.
SÓ POR ISSO, MÃE
Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.
Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.
Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.
Só porque tu existes,
Vale a pena!
(Lopes Morgado, Mulher Mãe)
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