Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Sem viver para o directo

"No passado ano, entraram 106 novos camaradas..." "A cobrança de quotas..." "Vendemos mais Avante!..." Estas frases, e outras do mesmo tipo, foram ouvidas à exaustão, durante dois dias e meio, no Campo Pequeno, em Lisboa. Eram os delegados ao XVIII Congresso do PCP, dando conhecimento ao colectivo do balanço das respectivas organizações que os elegeram como representantes. Além de relatarem a dimensão e actividade das organizações, quase todos trataram de afirmar os problemas do respectivo sector, as reivindicações, as críticas à governação.O tipo de discurso mudava apenas quando eram dirigentes de topo que subiam à tribuna para apontar o caminho doutrinário.E foram todos ouvidos e aplaudidos. Isto porque, nos congressos do PCP, os delegados assistem ao próprio congresso e não passeiam pelo recinto ou pela terra onde estão reunidos. Aguentam horas a fio as cascatas de intervenções, feitas exactamente no tempo previsto. Mais: os congressos do PCP começam às nove e meia da manhã e não se reúnem à noite.Os Congressos do PCP são, assim, congressos diferentes dos dos outros partidos. Mas este foi talvez o mais diferente dos congressos partidários dos últimos vinte anos da vida política portuguesa. É que, desta vez, já não há divergências internas suficientemente fortes e com expressão interna significativa para se fazerem ouvir no congresso. Desta vez não houve momentos de expectativa como os que se viveram nos congressos do PCP, desde que, no final dos anos 80, José Luís Judas pediu em pleno congresso o voto secreto - que hoje é obrigatório por lei geral dos partidos políticos -, até ao discurso crítico que Joaquim Miranda proferiu, há quatro anos.É por isso que muitos jornalistas andavam mais ou menos perdidos. Não havia notícia. Ou seja, não havia diferença, imprevisto ou improviso. Apesar de investirem no cenário, no efeito cénico e até na coreografia, os congressos do PCP não são feitos a pensar no sound byte para a rádio, nem no directo da televisão. No PCP, o objectivo é mais revolução.



02.12.2008, São José Almeida in Público

Sem comentários: