Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.

terça-feira, março 25, 2008

FAREWELL


1

Desde o fundo de ti, e ajoelhado

um menino triste, como eu, nos olha.

Pela vida que arderá nas suas veias

teriam que amarrar-se nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas,

teriam que matar as minhas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra

verei nos teus lágrimas um dia.


2

Eu não o quero, Amada.

Para que nada nos amarre

que nada nos una.

Nem a palavra que perfumou tua boca

nem o que disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos,

nem os soluços junto à janela.


3

(Amo o amor dos marinheiros

que beijam e partem.

Deixam uma promessa.

Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:

os marinheiros beijam e partem.

Uma noite deitam-se com a morte

no leito do mar.


4

Amo o amor que se reparte

em beijos, leite e pão.

Amor que pode ser eterno

ou que pode ser fugaz.

Amor que quer libertar-se

para voltar a amar.

Amor divinizado que se chega

amor divinizado que se vai.)


5

Já não se encantarão meus olhos nos teus,

já não abrandará junto a ti minha dor.

Mas onde quer que vá levarei o teu rosto

e onde quer que vás levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos demos

uma volta no caminho por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te amar,

do que colher no teu jardim o que eu semeei.

Vou-me embora. Estou triste: estou sempre triste.

Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração diz-me adeus um menino.

E eu digo-lhe adeus.




PABLO NERUDA - "Crepusculario". Barcelona, Planeta, 1990.

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