Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.

segunda-feira, março 31, 2008

EU HEI-DE-ME IR ASSENTAR (No círculo que leva a lua)


Ó luar da meia-noite

Não digas à minha amada

Que eu passei à rua dela

Às quatro da madrugada


Eu hei-de-me ir assentar

No “circo” que leva a lua

Para ver as voltas todas, tirana

Que o meu amor dá na rua
Que o meu amor dá na rua


Que o meu amor há-de dar

No “circo” que leva a lua, tirana

Eu hei-de-me ir assentar

Veja lá não se adiante

Em falar demasiado


Eu hei-de-me ir assentar

No “circo” que leva a lua

sábado, março 29, 2008

Sem tema.

Ontem resolvi entrar numa prova de vinhos. Estava a precisar, não para esquecer, como o Povo diz, mas para não lembrar. Para não lembrar uma história ridícula que ouvi esta semana que passou, uma história que nem a uma criança convence. Bem, voltando à prova de vinhos, cabe dizer que estavam em disputa os seguintes vinhos: Singularis, Herdade de S. Miguel, Tapada do Barão reserva, Conventual e Mateus Rosé emotions. Bem… este último não estava bem em concurso, era apenas para beber.
Então lá fui eu bebendo e degustando à minha maneira, analisando a cor do produto, e sentindo os cheiros de frutos silvestres, de ameixas, ananases e outros cheiros que do néctar emanavam e sentindo nas papilas gustativas o sabor de cada vinho. Fui bebendo e bebendo e bebendo…. Os melhores pareciam-me os Alentejanos, talvez tenha sido as minhas costelas a darem-me esta ideia, mas a verdade é que todos eles eram Alentejanos como eu! Bem, foi então que percebi que passara de enólogo iniciante a ébrio comum. Visto isto, a noite já ia longa e havia uma decisão a tomar, ir-me deitar.
Hoje acordei com uma nova alma como canta Yael Naim, com paz de espírito que estava precisando e com aquilo que não precisava nada, uma pequena dor de cabeça. Mas valeu a pena! Ah e já me esquecia, parece-me que o melhor foi o Singularis e o Tapada do Barão.

sexta-feira, março 28, 2008

O fenómeno da menina dos sapatos vermelhos


Rita Red Shoes em Vila Real, foto de Hugo Maia. Foto retirada do site www.olhares.com
Esta pode ser a «era dourada» para Rita Red Shoes. O seu disco de estreia -«Golden Era» - é o resultado de muitos anos a acumular música. Quem a vê apenas como a menina que toca piano com David Fonseca não está a ver tudo. Rita ganhou coragem e foi para estúdio gravar o que andava lá por casa guardado em maquetes. O resultado é um disco muito bem conseguido, com melodias suaves a alternar com batidas ritmadas, e até um cheirinho de country em «Love, what is it». O Amor é, de facto, o tema deste disco. Rita não o nega. Aliás, para ela, quer queiramos quer não, todos «lá vão parar». O single do álbum «Hey Tom», já toca nas rádios. Mas há muito mais para descobrir no mundo de Rita Red Shoes.
Para ouvir clique aqui. Aconselho a música «choose love» e «Once I found you», embora todo o CD esteja com grande qualidade




Fonte: Sapo

Monte Lunai


Monte Lunai é o nome de um grupo formado por cinco músicos que se dedicam a uma reinvenção da dança e do baile tradicional, no contexto da música tradicional europeia. É composto pelo violinista, pelo contrabaixista, pelo tocador de flautas, rausschpheif, clarinete popular, gaita de foles, didgeridoo, berimbau e outros, pelo percussionista e pelo guitarrista.O grupo faz-se acompanhar normalmente por entendidos na dança, nomeadamente, por uma professora de danças europeias, cujo papel é a interligação entre o público e o grupo através da exemplificação das respectivas danças. A música dos Monte Lunai vai ao encontro da actual redescoberta dos temas da dança tradicional. De toda a Europa, toca temas de baile como a muiñeira da Galiza, o hanter’dro da Bretanha, a contradança, a valsa, a mazurca, e também danças da Grécia, da Ucrânia, de Itália e Portugal, equilibrando uma roda de culturas e de formas diversas de tocar instrumentos diversos, também eles com a sua tradição ímpar. Trata-se pois, de um grupo que vive para o palco e para o baile, tendo já actuado por todo o país e para os mais variados públicos.De particular relevância foram, por exemplo, os bailes no Andanças, em S. Pedro do Sul, na Quinta da Regaleira, em Sintra e no Castelo de São Jorge, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém entre outros.Monte Lunai é a junção de dois termos de origens ou de épocas diferentes: o primeiro é actual e de significado imediato; o segundo poderá remeter para um imaginário antigo, de sabor vagamente medieval. É desta associação do antigo e do actual que se faz a música dos Monte Lunai.


Para ouvir clique aqui


quarta-feira, março 26, 2008

O Tibete foi, é e será sempre parte da China

Para quem apenas tem acesso a uma parte da história do que se passa no Tibete, aqui está um vídeo que explica em 7 minutos os 6 factos pelos quais o Tibete foi, é e será sempre parte da República da China. Esta é uma visão que os média ocidentais evitam passar e que é necessária para compreender o que verdadeiramente se passa. Entre vários factos, o filme aborda a escravidão dos Tibetanos pelos Lamas e as tentativas da CIA de divisão da República Popular China, à semelhança do que aconteceu com a Jugoslávia.
Para ver o filme clique aqui

terça-feira, março 25, 2008

FAREWELL


1

Desde o fundo de ti, e ajoelhado

um menino triste, como eu, nos olha.

Pela vida que arderá nas suas veias

teriam que amarrar-se nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas,

teriam que matar as minhas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra

verei nos teus lágrimas um dia.


2

Eu não o quero, Amada.

Para que nada nos amarre

que nada nos una.

Nem a palavra que perfumou tua boca

nem o que disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos,

nem os soluços junto à janela.


3

(Amo o amor dos marinheiros

que beijam e partem.

Deixam uma promessa.

Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:

os marinheiros beijam e partem.

Uma noite deitam-se com a morte

no leito do mar.


4

Amo o amor que se reparte

em beijos, leite e pão.

Amor que pode ser eterno

ou que pode ser fugaz.

Amor que quer libertar-se

para voltar a amar.

Amor divinizado que se chega

amor divinizado que se vai.)


5

Já não se encantarão meus olhos nos teus,

já não abrandará junto a ti minha dor.

Mas onde quer que vá levarei o teu rosto

e onde quer que vás levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos demos

uma volta no caminho por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te amar,

do que colher no teu jardim o que eu semeei.

Vou-me embora. Estou triste: estou sempre triste.

Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração diz-me adeus um menino.

E eu digo-lhe adeus.




PABLO NERUDA - "Crepusculario". Barcelona, Planeta, 1990.

sábado, março 22, 2008

Kumpania Algazarra

Para ouvir clica aqui

Estamos em boa Kumpanhia. Por isso toca a fazer muita algazarra. Vamos dançar até o dia romper. Esta música é de festa.
Os kumpania Algazarra misturam várias cores no seu som. Sempre tons alegres. Para mais facilmente se identificar a sua música poderíamos dizer que seriam a banda sonora perfeita para um qualquer filme de Emir Kusturica. Os sons de leste, com especial incidência na musica cigana, são a maior fonte de inspiração desta fanfarra.
Mas atenção que eles não se ficam por estas paragens e transportam para dentro das suas composições outras culturas. A faixa dois deste EP, “ Nove Estações”, traz consigo pedaços do calor de África.
E claro os sons portugueses. Eles cantam em português. Nasceram e cresceram em Sintra. O tema que deveria fechar este disco de nome “Bailinho da Caravana”, mas que por lapso fugiu daqui para voltar a dar lugar a “Ó Cidade”, apesar de aparecer registado, tem no bandolim o instrumento que nos remete para o tradicional português. Quem desejar ouvir este tema, que nos transporta igualmente para o médio oriente.
O que cativa nesta música é o facto de todas estas referências se conjugarem no mesmo espaço, sem se atropelarem, tornando estas canções mais atractivas.
Claro, que isto é folk. Um folk, que muito por culpa dos sopros, por vezes atira um pouco para o ska. Mas se numa qualquer discoteca desejarmos arrumar este disco, teremos, de o colocar na prateleira da world music. Sim, por que isto é música do mundo. De vários mundos.
Os Kumpania Algazarra criam sons que entram no nosso corpo e nos obrigam a mexer o pé. Por minutos libertamos o stress e esquecemos o dia a dia, perante um som que nos cativa o espírito.
Abram alas e deixem passar esta fanfarra. A festa vai começar. Tragam Kumpanhia e venham para o baile.


Nuno Ávila

DOIS PARTIDOS

"Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, – de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)".
Não, o texto acima não se refere ao PS e ao PPD/PSD. É de Guerra Junqueiro e foi escrito em 1896.

in Resistir.info

sexta-feira, março 21, 2008

Poeta Castrado, Não!


Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo dromedário

fogueira de exibição

teorema corolário

poema de mão em mão

lãzudo publicitário

malabarista cabrão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!

Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:

ternura como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que se partisse

me alagaria de pena;

e também uma alegria

uma coragem serena

em renegada poesia

quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:

De fome já não se fala

- é tão vulgar que nos cansa -

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história

- a morte é branda e letal -

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser

o poema dia a dia?

- um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer

parido por asfixia?!

- Ah não me venham dizer

que é fonética a poesia !

Serei tudo o que disserem

por temor ou negação:

Demagogo mau profeta

falso médico ladrão

prostituta proxeneta

espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado, não!


Ary dos Santos

quinta-feira, março 20, 2008

Momento...


Sou guiado pela planície por pensamentos barulhentos e errantes, enquanto no horizonte o sol mergulha nas searas e os chaparros vão por mim passando em sentido contrário, como se me dissessem adeus. Corrente contínua e massiva de árvores em debandada! Como se tudo fugisse do sítio para onde eu vou....
No meio de todo este bulício surge algo infinitamente pequeno, pinta vermelha feita pelo pintor com pincel número um. Uma papoila prematura que não se quis atrasar para a Primavera e que acabou encontrando a inicial invernosa primavera. Por certo que não conseguirá viver durante toda a Estação mas de uma coisa ninguém a pode acusar, de se ter atrasado para a sua Primavera!

quarta-feira, março 19, 2008

Poema XX-De Vinte poemas de amor y una canción desesperada


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

terça-feira, março 18, 2008

Pelo sonho é que vamos


Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.


Sebastião da Gama


Imagem de Ana Nitzan

domingo, março 16, 2008

Homenagem a Rogério Ribeiro


Ano de 2003

Tibete: uma teocracia feudal

Existe toda uma «aura» construída em redor do «Dalai Lama», que só persiste porque se ignora o que era o Tibete de que ele era o monarca: uma teocracia feudal, onde os mosteiros possuíam a quase totalidade da terra, assim como toda a autoridade política, judicial e policial, a maioria dos camponeses eram mantidos em servidão (senão mesmo em escravatura), o rapto de crianças pelas ordens religiosas era considerado normal, e os castigos corporais (amputação de mãos, furar olhos, chibatadas) eram a forma mais corrente de administrar «justiça». Só para se ter uma ideia:
  • «In 1953, the greater part of the rural population---some 700,000 of an estimated total population of 1,250,000---were serfs. Tied to the land, they were allotted only a small parcel to grow their own food. Serfs and other peasants generally went without schooling or medical care. They spent most of their time laboring for the monasteries and individual high-ranking lamas, or for a secular aristocracy that numbered not more than 200 families. In effect, they were owned by their masters who told them what crops to grow and what animals to raise. They could not get married without the consent of their lord or lama. A serf might easily be separated from his family should the owner send him to work in a distant location. Serfs could be sold by their masters, or subjected to torture and death.»

Mais informação aqui.


Retirado do blogue Esquerda Republicana

Casa del Valle (Uma casa ideal...)






A casa que o arquitecto Guilherme Machado Vaz projectou para o seu pai, o conhecido sexólogo Júlio Machado Vaz.
As fotos de
Leonardo Finotti mostram a beleza de uma casa bem enquadrada na paisagem. Para mim, uma casa ideal...

domingo, março 09, 2008

Saudade



Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que
nos machuca, é não ver o futuro
que nos convida...

Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
"aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos:

Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda

Calçada de Carriche


Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão

sexta-feira, março 07, 2008

Lisboa de vermelho

A maré cheia que no sábado tingiu o Rossio de vermelho, quando mais 50 mil militantes comunistas e outros democratas o fizeram transbordar numa poderosa demonstração do seu empenho na defesa da liberdade e da democracia, não foi apenas o reafirmar da vitalidade do PCP. Foi também a confirmação, sem margem para dúvidas, de que os valores de Abril estão vivos e de que os comunistas e os outros democratas portugueses estão dispostos a lutar para os defender e aprofundar.

Há mais de trinta anos que o PCP não promovia em nome próprio, uma manifestação. Fê-lo no passado sábado, 1 de Março, numa inédita acção de massas em defesa da liberdade e da democracia.
A resposta foi dada pela impressionante massa humana que, compreendendo a importância vital da luta em defesa do regime democrático, respondeu ao apelo do PCP e pintou de vermelho as ruas de Lisboa, num desfile como Lisboa há muito não via.
Quando o início da manifestação entrou no Rossio, começando a tornar rubra a velha praça, ainda muitos estavam a arrancar do Príncipe Real. Ao longo dos anos, já muitas manifestações tiveram aquele local como ponto de passagem ou de chegada, mas nenhuma como esta o fez transbordar assim. Para onde quer que se olhasse, e até onde a vista alcançava, era o vermelho ondulante das bandeiras do PCP que dominava.
Do palco, chegavam as palavras sempre actuais de Ary dos Santos: «Quantos somos? Como somos? / novos e velhos: iguais. / Sendo o que nós sempre fomos / seremos cada vez mais.» E os manifestantes não paravam de entrar na vermelha praça…
Ao longo do percurso – que se iniciou do Príncipe Real e desceu a Rua do Século em direcção ao Largo do Carmo, para em seguida rumar ao Rossio passando pela Praça da Figueira – ninguém ficava indiferente à passagem de tamanho cortejo. Uns, «conhecedores» do PCP apenas pelos meios de comunicação social e pelos generalizados preconceitos, surpreendiam-se com a dimensão da manifestação e o número de jovens (que eram «muitos, muitos mil para continuar Abril», como cantavam). Outros, entusiasmados com a sua vitalidade, não resistiam a saudar os manifestantes. Em resposta, eram incentivados a integrar o cortejo, o que muitos fizeram. De algumas janelas agitavam-se lenços e camisolas vermelhos em fraternas saudações.

In Avante!

domingo, março 02, 2008

Complexo Desportivo Ribera Serrallo, em Cornella de Llobregat, Barcelona.



Siza Vieira, arquitecto Português, venceu o prémio Secil 2006 com este complexo. As fotos de Fernando Guerra mostram a poesia que existe nesta obra arquitectónica.

sábado, março 01, 2008

Estranha forma de vida

Joana Vasconcelos


Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

Amália Rodrigues

Faleceu Maria Adelaide Dias Coelho Aboim Inglez

Faleceu ontem Maria Adelaide Dias Coelho Aboim Inglez. Nascida em 1932, em Castelo Branco, no seio de uma família antifascista, dedicou toda a sua vida à luta contra o fascismo e pela liberdade. Maria Adelaide aderiu ao PCP em 1953, tendo passado dez anos na clandestinidade. Presa por duas vezes passou dois anos na Cadeia de Caxias, Maria Adelaide assumiu várias tarefas clandestinas das quais se destacam o seu papel na ligação entre a organização dos camaradas presos nas cadeias fascistas e a organização do Partido no exterior, assim como na luta de solidariedade e pela libertação dos presos políticos. Entre 1968 e 1975, por indicação do Partido, residiu em Moscovo com Carlos Aboim Inglez, seu companheiro de sempre.

Mais de 50 MIL na Marcha Liberdade e Democracia

Manifestação do PCP (foto ANTONIO COTRIM/LUSA)

Em intervenção no final da Marcha, Jerónimo de Sousa, disse: «Permitam-me que vos saúde. Que manifeste a minha admiração e alegria pelo nível e dimensão desta Marcha inédita, transformada numa torrente humana onde se sente o pulsar da inquietação face aos perigos e ameaças, do protesto e do descontentamento perante as injustiças, aliados à determinação e à confiança na luta pela liberdade e democracia. Admiração e alegria tanto mais sentidas quanto nos tempos que correm sopram os ventos avassaladores da ideologia dominante que nos convidam e empurram para o pântano do conformismo e fatalismo, da alternância sem alternativa, da interiorização nas consciências da ideia da inevitabilidade das injustiças e desigualdades, da negação de um Portugal desenvolvido e democrático que acreditamos ser possível com a vitória de Abril.»

Agora sim eram Comunistas e foram mais de 50 mil a provarem que há muitos mil para continuar Abril...

Signo de Escorpião

Para ti, saberás, não há descanso A paz não é contigo nem fortuna; O signo assim ordena. Pagam-te os astros bem por essa guerra: Por mais curta que a vida for contada, Não a terás pequena.

José Saramago