Aqui posto de comando do Movimento das Palavras Armadas.

sexta-feira, março 06, 2009

É o vento

As árvores dobram-se e voltam a si.
Insistem com as unhas ancoradas na terra para não perderem a morada.
Para mais do que isso falta-lhes a força.
Pessoas a apertar casacos no peito.
É sempre aí que apertam, com medo que fujam de lá as memórias penduradas por arames velhos.
Já foram bons, falta-lhes a manutenção.

Arrumam os cabelos no ponto de partida para eles começarem de novo um improviso nervoso.
Os cães ladram uns com os outros, entendem-se como podem.
Há folhas a serem empurradas rua abaixo até adormecerem junto a uma parede, onde lhes acaba a imaginação.
Contentores do lixo tentam fugir às escondidas de quem os vê.
Os semáforos abanam a cabeça a quem lhes pergunta as regras.
Os pássaros arrumam as asas em ponto morto e deixam-se levar para onde não querem.
É o vento a gritar o que pode, a organizar ideias até lhe faltar o ar.
A coreografar a terra com passos largos.E é sempre assim.
Desarruma-se o mundo para depois se orçamentar quanto custa desarrumá-lo no sítio.
Faltarão coisas.
Mas as melhores nunca mudam de lugar.


Bruno Nogueira


Este texto foi retirado, sem a devida autorização, do blogue do
Bruno Nogueira (corpodormente), ao qual presto a devida vénia pela qualidade do texto. Só mostra que o rapaz, além de bom comediante também tem outros dotes...

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